Às 08:30 de 24 de dezembro de 1945, sob o Sol (e o Ascendente)
de Capricórnio, Ian Fraser Kilmister nascia em Stoke-on-Trent, Inglaterra. Num
país tradicional até a última nuvem cinzenta, com o Sol e o Ascendente em
conjunção partil (no mesmo grau) no mais tradicional dos signos e ainda a Lua
em Virgem reforçando a pegada do comportamento segundo as regras sociais do
meio em que está inserido, Ian tinha tudo para ser mais um estereótipo inglês:
terninho, chapéu coco, cabelo aparadinho e bigodinho, guarda-chuva, ser contador
ou trabalhar num banco – e não se esqueça do chá das cinco, certo?
Well... not
exactly. Ian Fraser virou Lemmy, de cabelos longos, bigodão e suíças. Empunhando
um baixo, e não um guarda-chuva, Lemmy foi trabalhar em outra já tradicional e
respeitável instituição inglesa: uma banda de Rock’N”Roll. E o diário chá das
cinco foi substituído por uma diária garrafa de uísque (e depois por vodca).
Cadê a tradição? Vamos olhar o mapa natal de Lemmy Kilmister
sob a ótica da Astrologia Tradicional – sem trocadilho! – para entender um
pouco mais sobre o baixista/vocalista/fundador do Motörhead – a banda inglesa
de som rápido, pesado, cru e sujo, sem refinamento nem frescura – e se esse
sujeito viveu o que os astros lhe prometiam.
Na Astrologia Tradicional (ou Clássica), o Ascendente é quem
representa o nativo. Saturno, regente de Capricórnio, está na Casa VII (angular
= forte!), em Câncer (exílio = enfraquecido) e retrógrado (= do contra), oposto
ao Ascendente. Saturno é planeta masculino e está em signo feminino
(=enfraquecido). E está conjunto a Pollux, estrela fixa maléfica. Ou seja, além
de ter de ralar muito durante a vida, a tradição desse nativo não vai ser bem
como você pensou; mais que a tradição, é o arquétipo do rebelde roqueiro imerso
em sexo, drogas e Rock’N’Roll, politicamente incorreto – como usar uniformes
nazistas, entre outras coisas – que Lemmy encarnou até o final de seus 70 anos
e 5 dias, em 29/12/2015.
Lemmy vivia cada dia como se fosse o último, procurando aproveitar
ao máximo a vida, dentro da sua visão particular. O sucesso como músico, letrista
e artista não o impedia de continuar sempre em turnê, tocando em estádios, bares e onde o
recebessem. Uma de suas declarações mostra sua atitude: ”Death is an inevitability, isn't it? You become more aware of that when you get to
me my age. I don't worry it. I'm ready for it. When I go, I want to go doing
what I do best. If I died tomorrow, I couldn't complain. It's
been good.” (“A morte é inevitável, né? Você se toca disso quando chega
na minha idade. Não esquento. Tô pronto. Quando eu partir, quero ir fazendo o
que faço melhor. Se morrer amanhã, não posso reclamar. Foi bom.”).
Além do Saturno de que já falamos, a Lua em Virgem na Casa
IX (cadente = fraca; e planeta noturno em mapa diurno e no hemisfério do Sol =
enfraquecido) e disposta por Mercúrio na Casa XII, ajuda a compreender esse
fatalismo e até frieza perante a realidade.
Júpiter, o Grande Benéfico, está na Casa X (angular = forte)
e conjunto à estrela fixa Arcturus, traz a promessa de disputas e brigas, mas
também de sucesso duradouro. Além disso, Júpiter está em mútua recepção por
disposição com Vênus, o Pequeno Benéfico, e está nos termos de Vênus e face do
próprio Júpiter. Está na triplicidade de Saturno, o Grande Maléfico, que é o
dispositor do Ascendente, o que tira um pouco das benesses de Júpiter. Lemmy
alcançou fama e fortuna, embora não tanto quanto outros mega-astros do Rock.
A história de Lemmy fala de infância difícil (pais separados
quando ele tinha 3 meses de idade: estava na Firdária do Sol, disposto por Saturno e oposto a ele; e Profecção de Saturno),
paixão pela música, gosto por mulheres, álcool, drogas (a Casa V, dos prazeres,
tem o dispositor na Casa XII, dos vícios) e fazer o que lhe desse na telha. Dos
vários casos que viveu, teve filhos que só foi descobrir mais
tarde, ou que até deu para adoção; no seu mapa o regente da Casa V (Casa dos filhos)
está na Casa XII (a Casa das coisas ocultas).
E quando assisti ao primeiro show do Motörhead no Brasil, conferi que,
ao vivo, o que eu já ouvira no disco ficava pior: Lemmy não cantava, ele
urrava; parecia que tinha as cordas vocais em frangalhos. No seu mapa encontramos
Vênus (regente de Touro, associado à garganta) na Casa XII, além de ser planeta noturno e feminino em sect diurno e signo masculino: não dava mesmo para
ter uma bela voz melódica desse jeito. Mas Lemmy não estava nem aí - e nem a platéia e fãs.
Desde os 56 anos, Lemmy estava vivendo na triplicidade de
Marte (o Pequeno Maléfico), planeta noturno em mapa diurno e no hemisfério do
Sol, na Casa VIII (a Casa da Morte) e retrógrado, ou seja, os problemas de
saúde tendiam a surgir e se agravar; foi no ano 2000 (com 54-55 anos) que Lemmy
foi diagnosticado com diabetes tipo 2 e teve de ser internado pela primeira vez.
Aos 64 anos passou a viver a Firdária desse mesmo Marte; neste
ano em que deixou o mundo material, Lemmy tinha acabado de sair da sub-firdária
Marte-Saturno (Pequeno Maléfico + Grande Maléfico) e com a saúde já muito
debilitada, entrar na sub-firdária Marte-Júpiter – o mesmo Júpiter que rege a
Casa XII (a mais maléfica das Casas, ligada a hospitais e doenças crônicas).
Em 24/12/2015 havia acabado de sair da Profecção de Vênus
(de Casa XII) e entrado na Profecção de Júpiter (regente da Casa XII). E Marte,
o disparador de eventos, estava em contato com Vênus (sextil), Júpiter
(conjunção) e Saturno (quadratura). Lemmy, considerado um Highlander junto com
Keith Richard – dois longevos representantes do estilo de vida sexo, drogas,
Rock’N’Roll e f0d@-se o mundo – sentia que a barra estava cada vez mais pesada.
Mas, como duplo capricorniano que era, já sentia tudo isso, como escrevera em
Capricorn, do álbum Overkill (1979), que também indica a rebeldia como escape ao peso saturnino:
“A thousand nights, I've spent alone,
Solitaire, to the bone,
But I don't mind, I'm my own best friend,
From the beginning, to the end,
My life, my heart, black night, my star,
Capricorn
Solitaire, to the bone,
But I don't mind, I'm my own best friend,
From the beginning, to the end,
My life, my heart, black night, my star,
Capricorn
December's
child, the only one,
What I do, is what I've done,
I realize, I get so cold,
When I was young I was already old,
What I do, is what I've done,
I realize, I get so cold,
When I was young I was already old,
My life, my
heart, black night, my star,
Capricorn
Capricorn
I always knew,
the only way,
Is never live, beyond today,
They proved me right, they proved me wrong,
But they can never last this long,”
Is never live, beyond today,
They proved me right, they proved me wrong,
But they can never last this long,”
(“Mil noites passei sozinho,
Solitário até o talo,
Mas não esquento, sou meu melhor amigo,
Do início ao fim,
Minha vida, meu coração, noite escura, minha estrela,
Capricórnio
Filho de dezembro, o único,
O que faço, é o que fiz,
Percebo, fico tão frio,
Quando era jovem, já era velho
Minha vida, meu coração, noite escura, minha estrela,
Capricórnio
Sempre soube, o único jeito,
É não viver além de hoje,
Provaram que estou certo e que estou errado,
Mas não duraram tanto assim.”)
Para encerrar o post, ouça Ace of Spades, exemplo do som que unia
elementos do Punk e do Heavy Metal e que abriu o caminho para o Trash: (https://www.youtube.com/watch?v=1iwC2QljLn4).
Gratidão pela companhia, e até a próxima!
Cao (Claudinèi Dìas)